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Flerte com a história: a batalha da Maria Antônia, por Álvaro Silva

*Álvaro José Silva

Queriam chamar de “Comando C4” o grupo terrorista de direita que estava sendo formado agora e até ser desbaratado pela Polícia Federal. Ele pretendia matar gente considerada inimiga a preços tabelados e todos os assassinados, claro, seriam de esquerda.

O nome ou sigla, seja lá de que forma deva ser identificada essa coisa, era uma alusão indireta ao CCC, ou Comando de Caça aos Comunistas, movimento de extrema direita ligado à ditadura militar brasileira e surgido no início ano de 1963 como um prelúdio do golpe militar de 1964, em São Paulo e Rio de Janeiro. Eu estava lá em terras paulistas!

O CCC tinha base em estudantes da Universidade Presbiteriana Mackenzie, tida e havida como reduto de direita, alguns membros ligados à Faculdade de Direito do Largo de São Francisco e vastos apoios policial e militar de ligados à ditadura. Sendo do CCC você podia até matar que não pagaria pelo crime.

Esse movimento tinha como líder o fascista João Carlos Monteiro Flaquer e como uma espécie de comandante Raul Nogueira da Lima, o Raul Careca, que se tornaria depois um célebre torturador do DOPS trabalhando junto com o delegado Sérgio Paranhos Fleury, de triste memória.

O grupo teria chegado a ter cinco mil participantes no Rio de Janeiro e São Paulo e foi na capital paulista que se deu o maior confronto entre essa gente e estudantes da Faculdade de Filosofia da USP, considerado reduto da esquerda. E era!

Os membros do grupamento fascista atacaram os estudantes da Federal. Durante dois dias, entre 2 e 3 de outubro de 1968 houve uma guerra entre os dois blocos na Rua Maria Antônia, em Vila Buarque, distrito da Consolação, próximo do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo.

Ao final de toda a batalha, o prédio da Filosofia havia sido incendiado, vários estudantes acabaram feridos inclusive por ácido sulfúrico e o secundarista José Carlos Guimarães, 20 anos, acabou morto por um tiro na cabeça (foto principal).

Até o teto da faculdade desabou com os incidentes e incêndio. Ninguém do CCC foi “identificado” pelas autoridades e o governo paulista encerrou o caso sem maiores investigações.

Eu tinha uma namoradinha na Filosofia, eava com ela em direção à escola no dia 02 quando vimos a confusão. Preferi tirar a menina dali, fomos embora e entramos no primeiro cinema que vimos com as portas abertas, sem nem ao menos conferirmos que filme ava.

E, por incrível que pareça, estava em exibição a comédia italiana “Il magnifico cornuto”, traduzido aqui como “O magnífico traído”, estrelado por Ugo Tognazzi e Claudia Cardinale. linda e maravilhosa àquela época.

Não sabíamos ainda da morte do rapaz, que a gente não conhecia e foi assassinado por Raul Careca. Nos divertimos muito no cinema. Depois tudo perdeu a graça.

O CCC destruiu a Rádio MEC, no  Rio de Janeiro, invadiu o Teatro Ruth Escobar, em São Paulo, o Teatro Opinião, no Rio, e foi responsável pela tortura e assassinato do padre Antônio Henrique Pereira Neto, auxiliar de Dom Elder Câmara.

Isso e mais a Batalha da Maria Antônia (segunda e terceira fotos) são a síntese do que eles fizeram, logicamente sempre apoiados pela ditadura e pelo capital financeiro, já que muitos dos estudantes da extrema direita eram filhos dos magnatas que comandavam a economia do Brasil à época e de suas mulheres, participantes das Marchas da Família com Deus pela Liberdade, motivadoras do golpe de 1º de abril de 1964, de 1963 até a aquartelada final.

Eram tempos nos quais o perigo morava nos edifícios de luxo e nos carros das polícias e organismos militares de repressão armada. A segurança só atendia a quem tinha bens materiais e carros de luxo e podia se vingar dos desafetos inclusive acusando-os de serem comunistas.

Um sócio do clube que meus pais frequentavam em São Paulo perdeu um filho dessa forma. E o rapaz nada tinha a ver com militância comunista; estava deslumbrado com o socialismo monárquico sueco…

É preciso combater essa gentalha onde quer que ela tente se esconder. Onde quer que esteja. Senão, como já foi demonstrado no dia 08 de janeiro de 2023, ela vai fazer o possível para devolver o Brasil ao nazifascismo tupiniquim.

Devolver ao nazifascismo para que pessoas como a ministra Marina Silva, um patrimônio nacional da ética e da dignidade, sejam desacatadas e talvez até agredidas e mortas em lugares como o Senado da Republica, que deveria ser um templo de homenagem à democracia. Mas isso só acontece com quem preza as instituições da República.

O rapaz assassinado pelo torturador do DOPS não viveu para ver realizados os seus sonhos. Cabe a nós a tarefa de impedir que o CCC volte pelas mãos de seus filhos bastardos, como tem sido tentado ultimamente.

*Álvaro José Silva é jornalista e escritor, membro da Academia Espírito-Santense de Letras 

 

Flerte com a história: a batalha da Maria Antônia, por Álvaro Silva
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