Ele criou o buraco negro e foi sugado para dentro dele. Mas, ainda assim, continuou influente e acaba de fazer chegar ao comando da Câmara dos Deputados um pupilo seu. Eduardo Cunha não morreu.
O ex-deputado pode ser ressuscitado na política pelo Estado que já deu ao Brasil nomes como Juscelino Kubitschek, Tancredo Neves e Aureliano Chaves, em cuja região agora emerge o político carioca no vazio de novas lideranças locais.
Principal articulador do impeachment da ex-presidente Dilma Roussef, o ex-deputado federal Eduardo Cunha intensifica sua estratégia de volta à política com o tripé Bíblia, boi e bola. E, desta vez, escolheu a cidade de Uberaba, no Triângulo Mineiro, como sua base eleitoral.

O carioca de 67 anos foi alvo da Lava Jato em 2016, ano em que foi cassado na Câmara. Em 2022, ele tentou se eleger deputado federal pelo PTB de São Paulo, mas teve apenas 5 mil votos.
“NOVO” NINHO
Agora, filiado ao Republicanos, Cunha pretende lançar sua candidatura a deputado federal em 2026 por Minas. O ninho não é tão novo assim. Afinal, a se confirmar federação com o MDB, Cunha se sentirá “em casa”.
O Republicanos é forte no estado, tem 83 prefeitos, 664 vereadores, quatro deputados estaduais e um senador, Cleitinho Azevedo, que atualmente lidera as intenções de voto para o governo mineiro.
Cleitinho, no entanto, criticou, em dezembro do ano ado, durante discurso no Senado, uma possível candidatura do ex-deputado, em 2026, após ter sido condenado por corrupção.
“A vontade que eu tinha era de dar um murro na cara de um cara como o Eduardo Cunha, que quer ser candidato. Mas não pode, porque o culpado ainda vira a gente. Esses caras devem estar tomando uísque e rindo da cara do povo. Estão fazendo apostas para ver quem ganha a eleição”, afirmou.
RÁDIOS
Eduardo Cunha tem investido em rádios evangélicas no interior de Minas Gerais, estratégia semelhante com a origem de sua carreira parlamentar no Rio, quando ganhou notoriedade com participações diárias em uma rádio gospel.
De acordo com levantamento do jornal O Globo, o ex-presidente da Câmara abriu cinco rádios no interior de Minas.
Em Uberaba, Cunha adquiriu a estação Agora FM, que pertencia ao empresário local Hermany Andrade Junior, e a rebatizou em fevereiro como Rádio Maravilha — é o mesmo nome de uma estação, também ligada ao ex-parlamentar, que foi aberta em 2024 no Rio, voltada à programação gospel.
BÍBLIA
Eduardo Cunha também ou a marcar presença em cultos evangélicos. Um dos seus cabos eleitorais é o apóstolo Valdemiro Santiago, da Igreja Mundial do Poder de Deus.
“Vamos em frente, porque Deus vai abençoar e tudo vai voltar a ser como era antes: coragem, ousadia e poder de decisão”, discursou o pregador, durante um culto evangélico, em Araxá (MG).
Cunha sempre se escorou no universo evangélico, especialmente na maior igreja do segmento, a Assembleia de Deus (membro da AD Madureira, no Rio de Janeiro).

O pastor Silas Malafaia, que se tornou eminência parda de Bolsonaro e do bolsonarismo, sempre foi um grande aliado de Eduardo Cunha – e quase foi sugado para o buraco negro junto com ele numa operação da Polícia Federal.
BOLA
Além disso, tornou-se patrocinador do Uberaba Sport Clube, time da cidade escolhida como base eleitoral. time de futebol que disputa a segunda divisão do Campeonato Mineiro.
BOI
Outra estratégia é a aproximação com o agronegócio de Minas Gerais. No final de abril, Cunha visitou a abertura da Expozebu, feira de gado que também recebeu o governador de Minas, Romeu Zema (Novo), e Arthur Lira (PP-AL), outro ex-presidente da Câmara.
Câmara, Cunha continua com poder político e frequentemente usa o gabinete da filha, a deputada federal Dani Cunha (União-RJ) para despachar. Uma das justificativas para não concorrer pelo Rio de Janeiro seria para não disputar com a filha.
A parceria vai além. Em Minas, as estações a cargo do ex-deputado estão em nome de Daniel Cardoso Sá, genro dele, casado com Dani Cunha.
HUGO MOTTA
Eduardo Cunha também recebeu elogios na eleição do atual presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), em fevereiro deste ano. Antes de se tornar o favorito ao comando da Câmara e conquistar apoio tanto do governo quanto da oposição,
Motta foi aliado de primeira hora do ex-presidente da Casa Eduardo Cunha. Foi Cunha quem lhe garantiu o primeiro cargo de destaque: a presidência da I da Petrobras. (Da Redação com O Tempo e O Globo)
